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quinta-feira, 23 de julho de 2020

(Re)petições linguísticas ou (re)petiçones lhenguísticas? (Documento completo)

David Dinis(1)

A. Teimosia ou conflito de interesses?

Não me cairiam os parentes na lama se voltasse ao antigo acordo ortográfico, como não me caíram quando passei a adotar o novo. Também não é o acordo ortográfico – qualquer que seja – que fere o meu patriotismo. Sou tão patriota como os concidadãos que fazem dos assuntos linguísticos uma questão vital e o centro do orgulho e do prestígio nacionais.
Confesso que a telenovela do Acordo Ortográfico de 1990 (doravante AO 90) começa a tornar‑se enfadonha. A falta de consenso à volta deste é uma longa metragem que dura há mais de duas décadas, em Portugal e em vários países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), facto comprovativo de que a cultura – sendo a língua porventura o expoente máximo – encontra‑se blindada pela neofobia. Refiro‑me à atuação da nossa Nação; os cidadãos dos restantes países lusófonos farão o seu juízo sobre a posição dos respetivos Estados.
O projeto de resolução apresentado, no passado dia 19 de dezembro, por um minigrupo de (três) deputados – pertencentes aos partidos que compõem a maioria parlamentar –, no qual se reivindica a monitorização e a reavaliação da aplicação do AO 90, foi a cereja em cima do bolo. Esse projeto surgiu na sequência da petição pública com o objetivo de desvincular Portugal ao AO 90. As duas iniciativas – projeto de resolução e petição – serão discutidas e votadas em sessão plenária da Assembleia da República no início de 2014.
Parece não ser muito percetível a ânsia de reverter uma decisão já tomada e que afetou milhões de portugueses. Devemos valorizar Portugal como um todo, enaltecendo o que consideramos ser bom e tentando melhorar o que entendemos estar mal. Assim, gostava de abrir um parêntesis e abordar ligeiramente o crónico problema do conflito de interesses.
As relações de cumplicidade entre a política e os interesses privados minam a democracia. Dezenas e dezenas de exemplos podem ser dados, desde a área da finança – está sempre nas hastes do bicho, com razão ou às vezes sem ela – à atividade de transformação do petróleo, passando pela construção de obras públicas, entre outros setores. Como resultado de grupos de pressão estrategicamente constituídos com objetivos bem definidos, tantos políticos com idade adulta têm estagiado em funções governamentais, incluindo nas de ministro, para depois se especializarem e profissionalizarem em cargos de órgãos sociais, sobretudo de conselhos de administração, de empresas pertencentes a grupos económicos de relevo.
A existência de situações de conflito de interesses – por si grave – torna‑se ainda mais deplorável perante a intermediação (subtil, em regra) de parlamentares cuja fidelidade a escritórios de advogados tem sido sobejamente evidente. Esta referência vem a propósito da dúvida que inicialmente se me assolou acerca do fundamento para levantar as cinzas de um assunto enterrado, ou melhor, ao princípio fiquei sem saber se o projeto de resolução e a petição anteriormente mencionados foram movidos pela teimosia (de quem tem contas a acertar com o AO 90) ou pela extensão do conflito de interesses ao domínio da língua (atendendo aos benefícios económicos que a reedição e reimpressão de livros, a relegendagem de filmes e restantes «re» trariam para vários setores de atividade).
Apenas não recusei liminarmente o cenário do conflito de interesses porque a nossa democracia tem‑nos aconselhado a que sejamos céticos – até porque ela deve ser transversal; por outras palavras: ou há moralidade ou comem todos, como o povo sabiamente lembra. Contudo, sinceramente afasto o cenário. Creio que o motivo para que os contestatários do AO 90 ainda não tenham enterrado o machado de guerra restringir‑se‑á à mera teimosia patriótica – e nada mais –, reflexo de quem deposita na língua portuguesa uma visão algo inflexível do seu nacionalismo.

B. A língua portuguesa como fator de entretenimento

Estão novamente a ser postos em causa os argumentos usados por Portugal para a assinatura, a ratificação e a entrada em vigor do AO 90. Em termos formais, este começou a vigorar em 2009, embora na prática somente releve o ano letivo de 2011/2012 e o início de 2012, respetivamente para os estudantes e as entidades dependentes do Estado, havendo sido estabelecido que a partir de maio de 2015 o acordo deve estar plenamente em vigor. Entendo que, entre os argumentos apresentados tanto pelos defensores como pelos opositores do AO 90, existem uns válidos e outros menos convincentes, senão mesmo um pouco desconchavados e falaciosos.
Reconheço que o acordo está longe de ser inatacável, porquanto determinadas regras acerca da acentuação e essencialmente da hifenização poderiam ser diferentes. Contudo, como já referi, para mim é irrelevante utilizar o AO 90, o antecessor ou qualquer outro. Poderei seguir a ortografia à luz de acordos precedentes, incluindo a anterior à Reforma Ortográfica de 1911, se tal for imposto. Poderei igualmente adotar o mirandês como primeira língua oficial, se assim vier a ser instituído. Cumpre‑me alinhar sem contestação, dado que a democracia é a ditadura da maioria, para o bem e para o mal.
Não obstante as críticas apontadas ao AO 90, considero que, face a todos os regimes ortográficos passados, o acordo em questão talvez seja o menos imperfeito – obviamente que este comentário estará imbuído de um etnocentrismo temporal. Os outorgantes do AO 90 jamais pretenderam fazer tábua rasa da pronúncia e do vocabulário ancestralmente enraizados em cada país. O objetivo deles foi tão‑só estabelecer uma única ortografia oficial para a língua portuguesa – aliás, subsistem casos em que o acordo prevê dupla grafia, com vista a respeitar o idioma do português luso‑africano e o do português brasileiro.
Os discordantes do AO 90 indicam o exemplo dos países anglófonos para procurar demonstrar que não é preciso qualquer acordo ortográfico para que a língua seja internacionalmente difundida. É um argumento duvidoso, pois não se pode ignorar que o contributo decisivo para essa difusão reside na vasta extensão territorial descontínua do ex‑império britânico, o maior de todos os tempos – no seu auge, o império português representou quase ⅓ do império britânico (e o império espanhol aproximadamente ⅔). Isso justifica grandemente o facto de a língua inglesa – que tem a vantagem de a sua ortografia não conter acentos gráficos – ser o latim da era moderna – basta ter presente que é a única língua cujo número de falantes não nativos excede o de falantes nativos.
Aliás, convém ter presente que, em prol do crescimento do castelhano, todas as academias da língua espanhola espalhadas pelo Mundo convergiram o seu entendimento para a eliminação dos problemas da grafia divergente, cujo resultado culminou, sobretudo a partir de 1999, na uniformização da respetiva língua. Tratando‑se de uma uniformização ortográfica – visto que se mantiveram as diferenças de estilo linguístico entre os diversos países –, todos os livros e documentos passaram a circular oficialmente no espaço pan‑hispânico sem necessidade de haver revisões ortográficas adicionais.
Perante o exposto, parece que o AO 90 – mesmo com dúvidas e imperfeições – contribuirá inequivocamente para a promoção internacional do português, desde logo porque após a sua completa entrada em vigor será possível que a língua moderna de Camões passe a ser reconhecida como a sétima língua oficial da ONU (juntando‑se assim ao mandarim, inglês, espanhol, árabe, francês e russo). A existência de duas normas linguísticas oficiais tem dificultado sobremaneira a elevação da nossa língua ao patamar da desejada distinção. Sendo o português a quinta língua mais falada no Mundo – atrás do mandarim, inglês, hindi e espanhol –, é de estranhar que não seja uma língua da ONU.
É hilariante continuarmos a assistir ao vivo a espetáculos onde se afundam feridas à volta das palavras. Os linguistas terão feito o exercício de compreender e explicar a inevitável e profícua evolução do português. Façamos uma rápida viagem retrospetiva à ortografia por que passou a nossa língua há apenas um século, e depois reflitamos se vale a pena insistirmos nas guerras e guerrilhas travadas à volta do acordo ortográfico.
Com a implantação da República e a dupla vontade firme de alargar a escolaridade e combater o analfabetismo, houve a coragem de enveredar por uma rutura linguística, que consistiu na valorização da vertente fonética da ortografia, em detrimento da componente etimológica greco‑latina – Reforma Ortográfica de 1911. O aspeto da língua portuguesa ficou substancialmente diferente, e no essencial assemelha‑se ao de hoje. Terá sido a favor de palavras como abysmo (abismo), annuncio (anúncio), diphthongo (ditongo), exhausto (exausto), phleugma (fleuma), prompto (pronto) e psalmo (salmo), que vigoravam antes dessa reforma, que várias individualidades da época se insurgiram, incluindo o genial poeta Fernando Pessoa.
Com o Acordo Ortográfico de 1945 – celebrado entre Portugal e o Brasil, ainda que este o não tenha ratificado – houve modificações que, face ao modo de escrita de então, pareciam impensáveis à luz dos olhos de hoje (pelo menos para a maioria da população). Vejamos: êle (ele), ennegrecer (enegrecer), freqùente (frequente), juxtapor (justapor), sciência (ciência), sôbre (sobre) e teem (têm). Daí se constata que as alterações ortográficas decorrentes da adoção do AO 90 não são mais significativas do que quaisquer outras resultantes de reformas e acordos ortográficos anteriores. Também por isso não fiquei minimamente beliscado quando abandonei a escrita de palavras como colectivo (coletivo), crêem (creem), extra‑escolar (extraescolar), heróico (heroico), óptimo (ótimo), pára‑quedas (paraquedas) e semi‑recta (semirreta). Ao princípio questionava algumas novas regras; mas como não violavam a minha honra, aceitei‑as conforme a convenção ditou. Ao contrário dos dogmas, as convenções não ferem a razão.

C. Do saudosismo do Quinto Império à universalidade das ideias

Portugal sempre foi um país cujo destino tem amiúde medido forças com o saudosismo. A prisão do passado e a resistência à mudança caracterizam a nossa mentalidade conservadora. Os movimentos de oposição acérrima ao AO 90 têm apresentado diversos argumentos – justificados sempre por ideias patrióticas – que por vezes obrigam a fazer uma viagem de vários séculos, na medida em que convocam para a sua causa figuras sublimes como o Padre António Vieira e o Fernando Pessoa.
São pesos de vulto, de facto. Resta saber se a referência às figuras históricas está devidamente enquadrada. Continuo a não estar seguro em relação à validade dos argumentos expostos. O símbolo patriótico e imperial que o Padre António Vieira terá atribuído à língua portuguesa inserir‑se‑á mais no sentimento de autonomia perante Castela do que na língua lusitana em si.
Com efeito, a teoria do Quinto Império profetizada por esse religioso em meados do séc. XVII – que inclusivamente lhe causou dissabores com a Inquisição, que o acusou de heresia –, à luz da qual Portugal encabeçaria um grande império no futuro, constituiu um fator indutor para terminar com a União Ibérica e culminar na reafirmação do País no Mundo. Logo, julgo que para o Padre António Vieira a língua portuguesa seria um meio para alcançar um fim.
Ao invés, com Fernando Pessoa a língua portuguesa era – ou talvez não – aparentemente um fim em si mesmo, até superior à segurança ou à independência nacionais. Ele, ou melhor, o seu semi‑heterónimo Bernardo Soares, terá feito da língua quase um cavalo de batalha. Recorde‑se a citação «minha pátria é a língua portuguesa», escrita para se insurgir contra a Reforma Ortográfica de 1911 (e o Acordo Ortográfico de 1931, entre Portugal e o Brasil, cujo resultado foi inconsequente, por não ter sido posto em prática).
Tal citação consta do trecho 259 do Livro do Desassossego: «Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portugueza. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente. Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, (...) a orthographia sem ipsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.»
Não há dúvida que é uma perspetiva algo heterodoxa de patriotismo, apenas compreensível porque o poeta foi um cidadão supranacional, que utilizou a língua portuguesa para transmitir a universalidade do seu pensamento extraordinário. O seu pensamento, livre e espontâneo, estava acima de tudo, designadamente da própria língua. Como ele confessou no trecho 443 (também do Livro do Desassossego), «Eu não escrevo em portuguez. Escrevo eu mesmo.» Portanto, parece que para ele a língua portuguesa não era um fim último mas um veículo de transmissão de pensamento, este sim, o mais importante. O pouco que (des)conheço de Fernando Pessoa permite‑me concluir que para o entender não é necessário que nos fixemos na ortografia usada no tempo em que ele escreveu, aliás bem diferente da de hoje.
O que distingue os povos não é a língua ou o idioma que cada um emprega mas sim as suas ideias. A dimensão de um país mede‑se pelo grau de universalidade das ideias da sua gente. As palavras são uma forma de expressão das ideias, tão digna como outras, nomeadamente a arte ou a fé – no sentido de convicção, e não tanto de religião. Assim sendo, visto que a língua, a arte e a fé são a sintaxe do pensamento, é escusado desperdiçar muita energia com as formas de manifestá‑lo. Concentremo‑nos, sim, no pensamento em si.

D. Notas finais

Apesar de eu não ficar ofendido com a acusação de termos ido a reboque do Brasil – ou de qualquer país da CPLP –, reconheço que o nosso País foi imprudente relativamente à gestão do processo de introdução do AO 90. Fomos cândidos por termo‑nos vinculado antes dos demais Estados. O processo deveria ter sido concertado entre todos os outorgantes e adequadamente acompanhado, e não ter‑se cingido às boas intenções de outrem. Não obstante, julgo que agimos de boa‑fé. Fizemos o nosso papel; os outros farão o seu. Sem querer pôr as mãos no fogo, creio que o bom‑senso prevalecerá e a razoabilidade dos objetivos do acordo dissiparão os atritos que os têm circundado.
É injustificada a polémica à volta da subalternização ou não de Portugal face ao Brasil, pois nada favorece a credibilidade que o acordo exige. A abordagem de vencedores e perdedores é simplista e redutora da realidade. Não é muito racional ver o acordo como uma conta de ganhos e perdas, ou seja, se o número de lemas modificados na norma ortográfica brasileira é maior ou menor do que acontece com o número na norma europeia. É um facto que, na sequência da aplicação do acordo, menos de ¼ do total de lemas alterados se referirá à norma brasileira. Se tivermos em consideração que aproximadamente 80% da população da CPLP é brasileira, conclui‑se que a fração de ¼ é adequada.
Para além disso, de modo a aferir o quão colossal é o Brasil, convém ter presente que é a quinta nação mais populosa do Mundo – atrás da China, da Índia, dos Estados Unidos e da Indonésia. Enquanto a população portuguesa se cifra em 2% do número de habitantes da União Europeia, a população brasileira representa mais de ⅓ e quase ¾, respetivamente dos habitantes da América Latina – que inclui o México, o 11º país mais populoso – e do espaço Mercosul. Segundo dados do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, o Brasil é um dos sétimos países mais ricos (de acordo com o valor do PIB em paridade do poder de compra) – a par do Reino Unido e da França, e depois dos Estados Unidos, da China, da Índia e do Japão, da Alemanha e da Rússia. Portanto, com o AO 90 não há países perdedores; a única vencedora é a lusofonia. Como português, sinto‑me honrado de pertencer a uma comunidade que integra um país como o Brasil – longe de mim pretender com isto desprimorar a importância dos outros países, sublinhe‑se.
A uniformização é o único caminho do futuro e do progresso da língua portuguesa. Foi nesse contexto que os oito países da CPLP assinaram o AO 90. Angola ainda não o ratificou – será brevemente, atendendo a que a ratificação estava prevista para março de 2013. Dos sete que ratificaram, em três – Brasil, Cabo Verde e Portugal – já se deu início à entrada em vigor, embora apenas em Portugal tal tenha sucedido efetivamente. Não parece muito sensato admitir‑se agora reverter tudo o que foi feito, só por Angola ainda não ter ratificado o acordo e por o Brasil ter decidido alargar para 2016 o período transitório para a sua entrada em vigor.
Em Portugal impôs‑se o AO 90 aos alunos – como indicado anteriormente –, até quando os seus encarregados de educação se opuseram de maneira tenaz. A mesma imposição ocorreu para as entidades estatais. Os principais órgãos de comunicação social adotaram as novas regras ortográficas. Encontramo‑nos a cerca de um ano e meio do final do período de transição para a sua integral entrada em vigor. A adaptação gradual ao acordo tem sido efetuada de forma tranquila e eficaz.
Assim, seria estranho sonhar que, volvidos dois anos após terem obrigado os portugueses – com destaque para a comunidade educativa – a entrar no comboio ortográfico, os atirassem pela janela com ele em andamento e em alta velocidade. Os cidadãos – pelo menos os milhões que, por obrigação ou por sua iniciativa, já se regem pelo novo acordo – pedem decoro aos parlamentares. O prestígio da Nação e da língua portuguesa dispensam chacotas e humilhações e está incomparavelmente acima dos vis interesses partidários. Ao contrário do que acontece na aritmética, na vida real os erros não são simétricos. Nada resolve corrigir erros com erros adicionais. Pelo contrário: agravam‑se. Seria tentar apagar um fogo com gasolina.
Acabo como comecei: não me cairiam os parentes na lama com a imposição de qualquer outro acordo. Não obstante, se a teimosia imperar, e se me for também permitido entrar nas áreas da ficção e do burlesco, gostaria de manifestar a minha opinião, de que poderia ser útil fazer mais petições linguísticas. Todas as (re)petições seriam democráticas. Duas poderiam ser acrescentadas: elevar automaticamente o mirandês a primeira língua oficial em Portugal; e referendar sobre se a segunda língua deveria ser o português pré ou o pós‑AO 90.

(1) FRES - Fórum de Reflexão Económica e Social

31 de dezembro de 2013

sábado, 27 de junho de 2020

(Re)petições linguísticas ou (re)petiçones lhenguísticas?

(Re)petições linguísticas ou (re)petiçones lhenguísticas? (31/12/2013)



Ls debates al redror de l nuobo acuordo – Acuordo Ourtográfico de 1990 (AO 90) – teiman an cuntinar na orde de l die. Parece me que tal se prende quier cun questones lhenguísticas propiamente ditas, quier cun fa(c)tores emotibos, políticos i culturales. Ne l meio de tanta relutáncia an relaçon àquele acuordo, ye lhegítimo propor que se fágan dues petiçones públicas adicionales (a la que fui antregue hai meses na Assemblé de la República para requerer la zbinculaçon de Pertual al acuordo): eilebar l mirandés la purmeira lhéngua oufecial; i fazer un referendo para saber se la segunda debe ser l pertués pré ó l pós AO 90.

Perdoem‑me os concidadãos que sabem mirandês, por este atrevimento e por ter aproveitado tão honesta língua para outro efeito que não o da sua genuína promoção. Utilizei o tradutor disponível na Internet, tendo escolhido a opção do subdiale(c)to centro‑setentrional.

Os debates à volta do novo acordo – Acordo Ortográfico de 1990 (AO 90) – teimam em continuar na ordem do dia. Parece‑me que tal se prende quer com questões linguísticas propriamente ditas, quer com fa(c)tores emotivos, políticos e culturais. No meio de tanta relutância em relação àquele acordo, é legítimo propor que se façam duas petições públicas adicionais (à que foi entregue há meses na Assembleia da República para requerer a desvinculação de Portugal ao acordo): elevar o mirandês a primeira língua oficial, e fazer um referendo para saber se a segunda deve ser o português pré ou o pós‑AO 90.

Apesar de ser leigo na matéria, ouso afirmar que, mesmo reconhecendo algumas imperfeições que o novo acordo contém, é deveras benéfico para a língua lusitana, a quinta mundialmente mais falada. Talvez estivéssemos melhor se o nosso Estado pudesse delegar a terceiros o seu dever constitucional de defender o uso e promover a difusão internacional da língua portuguesa – alínea f) do artigo 9.º da Constituição da República Portuguesa.

A ironia da última frase de cada um dos parágrafos anteriores serve para reforçar a opinião de que outros países teriam engenho bastante para o(p)timizar – terceira palavra (entre as quase quinhentas constantes dos seis parágrafos deste post escritos em português) modificada à luz do novo acordo ortográfico – tamanho património imaterial que herdámos. Para além disso, entendo que não é com exacerbado conservadorismo que se defende o futuro da língua portuguesa mas antes com espírito de abertura e universalidade, no fundo os valores que resultam das ideias do Padre António Vieira e do Fernando Pessoa, figuras proeminentes evocadas pelos opositores do AO 90.

Arrisco‑me a avançar que, ao contrário do que os opositores proferem, os dois vultos da cultura portuguesa atrás mencionados subscreveriam um acordo que espalhasse ainda mais a língua‑pátria pelo Mundo e simultaneamente ligasse gente de diferentes raças e credos. Creio não ser sacrilégio considerar que a uniformização do português é uma forma eficaz e adaptada aos tempos modernos de concretizar o Quinto Império do visionário Padre António Vieira, bem como uma via para se cumprir Portugal, eloquente desejo do intemporal Fernando Pessoa. Se a utilização do AO 90 for presidida pelos critérios da boa vontade e do respeito mútuo entre os países da lusofonia, contribuirá certamente para a coesão e o fortalecimento das relações entre os povos e o seu bem comum.

documento em anexo é o reflexo de uma análise diversificada – portanto, mais do que linguística – do AO 90. Penso que deve ser lido pelos parlamentares que no início de 2014 irão discutir e votar em sessão plenária o projeto de resolução e a petição sobre o acordo em apreço.

David Dinis

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